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O que diz o primeiro estudo brasileiro sobre os profissionais de carreiras verdes?

Atualizado: 15 de out. de 2022



O termo carreiras verdes já é conhecido no exterior há bastante tempo. Vi esse termo pela primeira vez em 2013, período no qual iniciei minha aproximação com o universo da sustentabilidade. Segui estudando esse assunto até que, em 2018, eu decidi conceitualizar o termo na minha pesquisa de mestrado sobre profissionais que trabalham com desenvolvimento sustentável.


O conceito de empregos verdes é a base conceitual das carreiras verdes. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, empregos verdes são definidos como “ empregos decentes que auxiliam a preservar e restaurar o meio ambiente, seja em setores tradicionais como a manufatura ou a construção, ou em novos setores verdes emergentes, como energias renováveis e eficiência energética”. Empregos decentes são definidos como aqueles que asseguram justiça social, promoção de pleno emprego e sustentabilidade da economia e das sociedades.


Em 2018 ainda não se falava sobre regeneração com tanta ênfase, mas em nova publicação (que ainda está em processo editorial) aprimorei o conceito de carreiras verdes incluindo a regeneração, além do conceito de sustentabilidade. Como disse Elkington em uma palestra: “sustentabilidade é manter as coisas como estão (...), regeneração significa muito mais. Significa que estamos reconstruindo coisas, reconstruindo a saúde de grandes sistemas.” Hoje, sei que teria que incluir a sigla ESG na discussão teórica sobre carreiras verdes.


Então, carreiras verdes são carreiras que contribuem com a sustentabilidade e a regeneração dos sistemas ambientais e sociais. Contempla todas as áreas de conhecimento, logo, profissionais de todas as áreas podem construir carreiras verdes. As carreiras verdes podem ser entendidas como uma especialidade das profissões tradicionais que já existem, considerando que ainda estamos em transição verde. Costumo utilizar o termo “esverdeamento” das carreiras e do mercado de trabalho para tratar sobre o tema e o progresso dos empregos e trabalhos verdes. A transição justa é uma pauta muito conectada com as carreiras verdes e deve ser considerada em discussões sobre esse assunto, embora eu não tenha discutido isso na minha pesquisa por questões de delimitações temáticas e conceituais.


O que diz o primeiro estudo brasileiro sobre profissionais que trabalham na área de sustentabilidade?


Para tentar evitar distorções na compreensão dos resultados da pesquisa, é necessário explicar brevemente os conceitos que foram mensurados. O estudo mediu três conceitos amplamente estudados por cientistas da área de desenvolvimento de carreira: adaptabilidade de carreira, comprometimento de carreira e barreiras de carreira e estratégias para enfrentá-las.


A adaptabilidade de carreira diz respeito a competências psicossociais que auxiliam o indivíduo a enfrentar tarefas previstas ou inesperadas da trajetória profissional. Envolve curiosidade, confiança, autorresponsabilidade, planejamento e otimismo.


Já o comprometimento de carreira está relacionado com sentimentos e atitudes positivas do indivíduo em relação à sua carreira. Tais aspectos favorecem não só a identificação dos indivíduos com a escolha profissional, mas também o engajamento com a carreira ao longo da trajetória.


Por fim, o último conceito investigado foi o de barreiras de carreira que significa a percepção das pessoas sobre a existência de fatores que dificultam o crescimento profissional. As estratégias para enfrentar as barreiras de carreira dizem respeito aos recursos psíquicos e atitudinais que indivíduos desenvolvem para manejar desafios de carreira.


A pesquisa, de método misto, comparou profissionais de carreiras verdes com profissionais de carreiras não verdes. Incluiu profissionais empregados, servidores públicos e autônomos A amostra foi, majoritariamente, composta por adultos com cinco anos ou mais de experiência profissional.


Vamos aos resultados!

De modo geral, os profissionais de carreiras verdes tendem a demonstrar maior adaptabilidade e comprometimento com as suas carreiras do que profissionais de carreiras não verdes. Mais do que isso, demonstraram ser mais curiosos, resilientes e identificados com as suas carreiras quando comparados com profissionais de carreiras não verdes.

Em relação à percepção de barreiras de carreira, não houve diferença significativa entre os grupos estudados. Entretanto, ao se tratar das estratégias utilizadas para enfrentar as barreiras de carreira, os profissionais de carreiras verdes utilizaram menos estratégias de autocuidado. Além disso, relataram trabalhar mais horas e diversificar atividades de trabalho com maior frequência do que profissionais de carreiras não verdes.


Considerações sobre os resultados

A pesquisa foi a primeira realizada no Brasil e, como toda pesquisa, tem limitações metodológicas e amostrais. Por isso, não podemos dizer que os resultados representam todos os profissionais de carreiras verdes do Brasil. Mas, pela minha experiência como consultora de carreira, vejo que os resultados explicam aspectos relacionados ao perfil profissional e a questões relevantes das carreiras verdes.


Os resultados sobre as estratégias para enfrentar barreiras de carreira merecem atenção, já que os profissionais de carreiras verdes demonstraram trabalhar mais e realizar menos práticas de autocuidado. Esses dados nos alertam sobre a necessidade de estarmos atentos a aspectos de saúde mental, sobrecarga de trabalho e dificuldades relacionadas ao ingresso e permanência de profissionais de carreiras verdes no mercado de trabalho.



Referências:

International Labour Organization [ILO]. (2016). What is a green job? Recuperado a partir de: https://www.ilo.org/global/topics/green-jobs/news/WCMS_220248/lang--en/index.htm


Elkington, J. (2021). Cisne Verde: O Boom Do Capitalismo Regenerativo? Comunicação apresentada no evento Expert ESG XP Investimentos. Recuperado a partir de: https://eventoexpert.xpi.com.br/event/expert-esg-2021/schedule


Silva, D. C. (2020). Carreiras verdes: estudo sobre profissionais que contribuem com o desenvolvimento sustentável. Dissertação de Mestrado, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil.



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